Porque Nano pode ser a Reserva de Valor definitiva entre as moedas?
Tradução livre do texto Why Nano may be the ultimate store of value and reserve currency. (Senatus)
Ao me deparar a primeira vez com este artigo, senti uma ligação muito grande com o autor, mesmo sem conhecê-lo.
Isso porque eu mesmo poderia ter escrito algo muito semelhante, já que penso de forma parecida.
Infelizmente não acredito que conseguiria ter escolhido as palavras e organizado a ideia tão bem quanto o autor original, e foi por este motivo que escolhi traduzir livremente ao invés de simplesmente tomar o texto como referência para outro de minha autoria.
Neste artigo, Senatus defende porque ele acredita que Nano (criptomoeda), mais do que Bitcoin ou ouro, pode ser a reserva de valor “final”, ao notar que ela se aproxima muito do limite teórico das características necessárias para a reserva de valor perfeita.
Muito dessa defesa é baseada no artigo The Changing World Order (Ray Dalio), que é muito longo e está em inglês, mas ainda assim é uma leitura recomendada para todos interessados no futuro do dinheiro fiduciário e moedas de reserva de valor.
Antes de começar — ele percebeu que as pessoas inicialmente vêem Nano como uma criptomoeda bonitinha que é focada em ser instantânea e sem taxas, e tem muitos apoiadores por ser muito fácil de ser demonstrada e utilizada pela primeira vez como um teste. Senatus acredita que, por conta disto, os verdadeiros fundamentos da Nano acabam passando despercebidos e que no longo prazo estes fundamentos são, de longe, mais importantes que ser apenas instantânea e sem taxas. São exatamente estes fundamentos que irão despertar o interesse de grandes investidores, de acordo com o autor.
Tendo dito isso, vamos começar, e agora levarei o texto para a primeira pessoa, com o objetivo de dar mais fluidez na tradução.
O fim de um ciclo
Fiquem tranquilos, investidores de cripto.
Não estou falando do fim de um ciclo das criptomoedas. Eu acredito que estamos no fim de um ciclo onde temos moedas fiduciárias (dólar, euro, libra, yuan, etc) como reserva de valor.
Isto é causado por uma confluência de fatores — fatores estes que o artigo “The Changing World Order” descreve muito melhor do que eu jamais poderia fazer.
Resumidamente — Uma dívida coletiva muito grande foi construída e ela está sendo sustentada pelos bancos centrais, que estão esgotando seus recursos. Esse sistema poderia ter continuado por um tempo um pouco maior, se não fosse a chegada do Covid que acelerou o processo.
Por conta do Covid, qualquer crescimento potencial foi atrasado. Com dívidas recordes surgindo e uma diminuída no crescimento e no consumo, existe um recurso que os bancos centrais podem utilizar para tentar sustentar mais um pouco a economia. Eles podem expandir o suprimento monetário.
É isso o que vem ocorrendo em uma escala gigantesca, com uma velocidade muito superior à de qualquer outra vez que algo semelhante aconteceu. E é esse rápido aumento da base monetária que acelera ainda mais a perda de valor das moedas fiduciárias.
Por incrível que pareça, isso não é uma novidade.
Estes ciclos já aconteceram antes. O Império Holandês, começando seu crescimento em 1581 ao destronar o espanhol, alcançando seu pico de poder em 1650 fez com que o Florim Holandês se tornasse a moeda para reserva de valor mundial. O Florim Holandês se manteve como a reserva de valor preferida até meados de 1700–1750.
Durante seu lento declínio os holandeses foram aumentando suas dívidas, se apoiando em sua posição global ao possuir a moeda mais forte para conseguir empréstimos mais baratos. Eventualmente a dívida se tornou grande demais para se suportar e conflitos internos pela riqueza aumentaram, até que os britânicos puderam assumir o lugar do, já enfraquecido, Império Holandês.
O próprio Império Britânico passou por uma ascensão e queda muito parecida, possuindo a maior parte da riqueza mundial, poderio militar e status de reserva de valor com sua moeda corrente.
Para resumir a história, vamos apenas dizer que os ingleses eventualmente perderam sua posição para os Estados Unidos, trazendo-nos para o momento em que nos encontramos hoje.
Em ciclos anteriores, a quebra das moedas correntes como reserva de valor levaram à uma busca pelo dinheiro forte*. O ciclo então recomeça com ativos baseados no ouro.
*O autor Senatus usa a expressão hard money, que em uma tradução literal seria “Dinheiro Duro”, mas encontrei algumas fontes traduzindo como Dinheiro Vivo. É uma expressão difícil de ser traduzida e, ao analisar usos futuros no decorrer do texto e a contextualização, não acredito se tratar do que nós consideraríamos como dinheiro vivo (notas em espécie), mas sim de um dinheiro mais “tangível”, como o ouro. Eu havia decidido traduzir como Dinheiro Puro, e mantive esta tradução por um tempo, mas o leitor @rcastr (twitter) sugeriu a alternativa Dinheiro Forte, que gostei bastante.
Estes ativos tinham a vantagem de serem portáteis, divisíveis e, o mais importante, podiam ser negociados à vista. Usar o ouro significava utilizar uma moeda que não dependesse de créditos ou da confiança em um determinado sistema. O ouro é um dinheiro forte, uma mercadoria valiosa, em um tempo onde as pessoas haviam perdido a confiança em concessões de crédito e promessas.
Mas o ouro possuía alguns problemas. Seu transporte era arriscado e inconveniente. Acabou sendo mais fácil possuir contratos que davam direito à reivindicações de ouro e que poderiam ser negociados. O próximo estágio (segundo estágio) foi a utilização de dinheiro lastreado ao ouro.
Este estágio foi seguido de um aumento da dívida conforme os bancos foram percebendo que não precisavam ter 100% do lastro para atender às reivindicações. O que gerou crises relacionadas à dívida e à fuga das pessoas dos bancos ao descobrirem que seu dinheiro não estava 100% coberto e elas poderiam não conseguir reivindicar seu valor real em ouro caso desejassem.
Isso já aconteceu em nosso ciclo atual.
Foi então que chegamos à fase das moedas fiduciárias (deixando de lado o padrão ouro — gold standard), um sistema onde o dinheiro forte — hard money já não possui mais nenhuma participação.
Com o aumento crescente da impressão de dinheiro, que desvaloriza as moedas fiduciárias, nós eventualmente encerramos mais um ciclo com as pessoas buscando reservas de valor que não estejam degradadas por serem lastreadas à confiança em governos. Ray Dalio acredita que atualmente estamos neste estágio e eu estou inclinado a concordar.
No entanto, uma coisa mudou em relação aos ciclos anteriores.
Hoje nós temos a internet e todas as possibilidades que ela traz.
O que a internet nos oferece é a possibilidade de termos uma forma de dinheiro forte— hard money que não possui os problemas que o ouro possuía.
Aqueles mesmos problemas que nos levaram à passar para o segundo estágio (padrão ouro).
O que me leva à próxima parte deste artigo.
Criptomoedas ou Bitcoin como dinheiro puro
O que as criptomoedas nos oferecem é a possibilidade de termos um dinheiro forte— hard money altamente portátil, porque ele não existe fisicamente, que é divisível, pode ser facilmente trocado e, o mais importante, é seguro através da descentralização.
E são por estas características que eu acredito que estamos começando a observar um movimento muito importante, onde investidores estão fugindo para as criptomoedas como cobertura de risco. No entanto eu acredito que o mercado ainda é um pouco superficial e os fundamentos ainda estão passando despercebidos.
O motivo de eu dizer que os fundamentos estão passando despercebidos é porque a criptomoeda que está recebendo mais atenção (Bitcoin), é aquela que as características mencionadas acima (portabilidade, divisibilidade, segurança e descentralização) são duvidosas.
A falta de escalabilidade do Bitcoin, que causa transferências lentas e taxas de rede muito altas, está levando à utilização de soluções custodiais — Lightning Network, “lastreadas” ao Bitcoin, mas não sendo o Bitcoin propriamente dito em sua rede principal. Essencialmente saltando para a segunda fase do ciclo de dívidas descrito anteriormente, como ocorreu com o padrão ouro.
Ainda assim, este salto não é a pior parte das soluções custodiais. Muito mais importante, isso faz com que sua segurança através da descentralização se torne cada vez mais questionável.
A segurança do Bitcoin deriva de seu mecanismo de consenso descentralizado.
Transações são verificadas por uma rede competitiva de mineradores realizando Proof of Work com a intenção de conseguir as recompensas de blocos e as taxas associadas aos blocos do Bitcoin.
Enquanto isso vem ocorrendo relativamente bem (com algumas exceções) até o momento, as dinâmicas de longo prazo deveriam deixar preocupado qualquer um que olhe para essa situação de forma um pouco mais profunda.
O negócio de mineração de Bitcoin é uma economia de escala, com acesso à capital barato e vantagens de aumento da produção para aqueles que possuem mais capital.
Economias de escala levam a centralização do poder de consenso (votação), o que diretamente diminui a segurança e a proposta de valor do Bitcoin. Existem estudos suficientes que descrevem esta tendência que já está se tornando bastante evidente.
A proposta de valor do Bitcoin vem de sua segurança, que por sua vez vem de seu mecanismo de consenso. Os incentivos à centralização, inerentes à uma economia de escala, impactam diretamente à proposta de valor do Bitcoin.
Já deve estar claro que, apesar de eu acreditar que as criptomoedas possuem um potencial gigante, não acredito que o Bitcoin seja a resposta.
Nano, quase uma criptomoeda perfeita
Como eu mencionei logo no começo, acredito que Nano é o dinheiro mais forte que existe e também acredito que seu potencial é extremamente subestimado. Vou explicar porque.
Nano supera o ouro em diversos aspectos e se aproxima do limite teórico de uma reserva de valor perfeita. Sua portabilidade e eficácia para transferências são únicas — Nano é uma moeda digital com transferências na velocidade da luz. Eu poderia te enviar algumas agora mesmo e ela seria confirmada através de consenso global no tempo que levaria para você piscar. Nem um único átomo seria perdido no processo, como poderia acontecer com o ouro. 1 Nano enviado, será 1 Nano recebido sempre, porque não existem taxas na rede.
Ela pode ser dividida em 30 casas decimais, desta maneira o mundo inteiro poderia ter apenas 1 Nano e ainda assim ser capaz de realizar microtransações.
Essa proposta de zero-taxas me leva para o próximo aspecto importante.
Na Nano não existe uma centralização no decorrer do tempo.
Não existe mineração, não existem taxas, não existe inflação, nem blocos de recompensa. A rede em si mesma já é a recompensa, porque a Nano é sem taxas, a transferência de valores mais rápida do mundo e uma excelente reserva de valor. O que faz dela uma ótima solução para muitos negócios.
Como qualquer mercador iria te dizer, a possibilidade de cortar taxas tem um GRANDE valor. Como qualquer exchange iria te dizer, pessoas negociando em Nano geram muita receita. O valor para estas instituições está na rede se manter online de uma forma segura. O valor está nos negócios criados sobre esta mesma rede e no valor das Nanos que eles próprios possuem.
O mesmo se mantém, de maneira proporcional, para cada pessoa que também possua Nano.
Nano não possui mineração. Ela usa o sistema ORV (Open Representative Voting). 1 Nano = 1 Voto.
Qualquer pessoa pode rodar um validador e qualquer um pode votar para um diferente validador a qualquer momento, ou trocar seu voto também a qualquer momento.
Qualquer um que possua Nano, tem o incentivo de ajudar a distribuir seus votos de uma maneira que seja extremamente difícil para que um único indivíduo (ou grupo de indivíduos) alcance maioria sobre o consenso da rede.
Em outras palavras, qualquer Nano Holder é incentivado a colaborar com a descentralização.
Este não é apenas um exercício teórico. Enquanto a centralização emergente do Bitcoin já é aparente, a descentralização emergente da Nano também pode ser vista através do movimento de votos da rede no decorrer do tempo.
Adicionalmente ainda temos o aspecto da Nano em possuir um suprimento — supply fixo de dinheiro.
Entusiastas do Bitcoin as vezes falam sobre o modelo Stock to Flow (S2F) no roadmap até o preço de U$1 milhão para o Bitcoin.
O S2F do Bitcoin está em algo entre 38–54, com um maior valor sendo necessariamente melhor que um valor menor, ao se ter menos suprimento monetário novo entrando no mercado. O Halving aumenta o S2F, já que ele diminui o supply entrando no mercado.
Sem entrar em detalhes sobre os méritos deste modelo, sua metodologia de cálculo ou a validade desta teoria, fica claro que a proposta da NANO oferece um S2F superior. Na Nano nunca teremos novas Nanos entrando no mercado.
Seu S2F nem mesmo pode ser calculado, pois ele é infinito.
E para terminar, Nano não possui limitações no que diz respeito à escala.
Ela escala utilizando qualquer hardware ou bandwidth disponível. O protocolo é muito eficiente e utiliza pouquíssima energia. Em todos os sentidos, ele desafia todos os limites e barreiras do que “é possível”.
E é por estes motivos que eu acredito que Nano não é apenas uma fantástica Reserva de Valor, como é bem difícil sequer pensar em algo que possa funcionar melhor, para começo de conversa.
Conclusão (TL;DR)
Tudo o que foi escrito acima explica o que significa quando eu digo que a Nano está nos limites teóricos do que deveria ser a reserva de valor perfeita.
Ela praticamente não possui limites em relação a sua divisibilidade (até 30 casas decimais), não possui limite para suas transferências (sem taxas), e perfeitas para ser utilizada como dinheiro, pois suas transferências ocorrem em menos de um segundo e sem a necessidade de se confiar em um órgão central. Sua segurança vem da descentralização que, por sua vez, é incentivada pelo próprio protocolo.
Atacar o consenso da Nano é difícil, pois é extremamente difícil conseguir adquirir uma grande quantidade de votos e porque, uma vez alguém tenha conseguido adquirir tal quantidade, esta pessoa tem TODOS os incentivos para não realizar o ataque.
A escalabilidade da Nano significa que talvez nunca seja necessário (ou muito menos necessário) mover para o segundo estágio (soluções que envolvam lastros, centralização através de instituições ou alternativas paralelas de segunda camada), pois a Nano supera o ouro ao ser transferível globalmente, de forma segura, instantânea, sem taxas, sem perdas e altamente divisível.
Resumidamente, acredito que a Nano oferece uma melhora de magnitude gigante à qualquer outra forma anterior de reserva de valor.
Eu acredito que ela desafia os limites teóricos de uma reserva de valor perfeita e está extremamente desvalorizada.
Eu vejo o final deste ciclo em que estamos vivendo, como uma oportunidade para o dinheiro forte — hard money reemergir e eu acredito que cada vez mais e mais pessoas irão encontrar seu caminho até a Nano.
Se você realmente leu tudo isso, obrigado.
Pensar e tentar escrever sobre tudo isso realmente abriu muito meus olhos e eu gostaria de saber o que vocês pensam a respeito.